Com foco na conscientização e combate ao HIV/AIDS, o Dezembro Vermelho é uma campanha nacional que busca educar e mobilizar a população sobre prevenção, diagnóstico precoce e tratamento da doença. Criada em 2017 no Brasil, a iniciativa também combate o estigma e a discriminação que ainda cercam pessoas vivendo com o vírus. Ações incluem eventos educativos, testagens gratuitas e distribuição de preservativos, ressaltando a importância de uma saúde sexual consciente e acessível.
O tema se tornou ainda mais latente quando, em outubro deste ano, foi revelado o escândalo no qual pacientes da Secretaria estadual de Saúde (SES), que receberam órgãos transplantados, acabaram sendo contaminados pelo vírus, devido a falhas em testes feitos pelo laboratório PCS Saleme, que possuía milhões de reais em contratos com o executivo estadual. Diante disso, ações de prevenção, conscientização e informação passaram a ser ainda mais necessárias.
Neste domingo (1º), é celebrado o Dia Mundial da Luta contra a AIDS, uma data que traz a reflexão sobre os avanços, desafios e memórias de uma epidemia que marcou as últimas décadas em todo o planeta. No Brasil e nos Estados Unidos, a história do HIV e da AIDS segue uma linha de evolução com pontos em comum e divergências importantes, de forma a destacar o papel das políticas públicas no combate ao estigma às comunidades afetadas.
A professora do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF), Samantha Quadrat, lidera o projeto “História Pública e Memória do HIV-AIDS no Brasil e EUA”, vinculado ao Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI), que busca entender, em perspectiva comparada, a trajetória do vírus do HIV e da doença da AIDS nesses dois países. Sua pesquisa analisa não apenas os impactos sociais e emocionais da epidemia que ocorreu nas décadas de 1980 e 1990, mas também o papel das políticas de memória e do ativismo para a construção da memória pública.
“Compreender a trajetória do HIV e da AIDS como uma questão de saúde pública global ajuda a enxergar como diferentes sociedades reagiram, cada uma à sua maneira, ao enfrentar um inimigo comum. Esse não é um tema que a história como ciência ainda abraçou totalmente. Nos Estados Unidos, vemos mais políticas de memória, que serviram de referência para muitos países, enquanto no Brasil o tema ainda encontra resistência em sair do espectro LGBTQIA+”, explica Quadrat.
A professora ressalta a necessidade de discutir casos emblemáticos que mostram a complexidade da transmissão involuntária do HIV, como o do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, infectado por transfusão de sangue, e os pacientes contaminados após transplantes de órgãos. “Esses casos mostram que o HIV não está limitado a um grupo específico e que o preconceito só prejudica o avanço da prevenção e do tratamento”, reforça.
De acordo com a pesquisa “Nós Somos a Resposta” do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no Brasil, dos 43.403 casos de HIV notificados em 2022, quase a metade, 41%, era de pessoas de 15 a 29 anos de idade. No entanto, somente uma parte deles sabe que está infectada. Para a pesquisadora, isso é um reflexo da falta de iniciativas para preservar a memória e estimular o debate.
Com informações de Tempo Real
